Literanino

Presença trans nas agênias literárias — 2025

Como uma pessoa trans produtora de conteúdo literário e escritora, entender os espaços ocupados pelos meus pares no mercado literário sempre foi uma questão para mim, para entender como navegamos nesse meio e quais são as oportunidades que existem para nós.Há 2 anos venho acompanhado a produção da pesquisa sobre presença preta nas agências literárias, da Dayane Borges, (@dayescreve). Nessa pesquisa, a Day busca entender como as pessoas pretas (e não brancas) são agenciadas e como é a busca das agências literárias, um dos principais meios de entrar no mercado editorial como escritor, por pessoas desse grupo minoritário.

Como a pesquisa foi feita?

Para a pesquisa, visando evitar declarações equivocadas, contatei 12 agências literárias de diferentes tamanhos, mapeadas pela Day, no período entre 21 a 29/01. Das 12, 5 agências responderam, sendo que uma delas optou por não participar por considerar essa uma questão particular dos seus assessorados.Como o governo brasileiro não possue indicadores oficiais de gênero no país, além de homem e mulher, estabeleci os seguintes indicadores:• Mulher cis;
• Mulher trans;
• Homem cis;
• Homem trans;
• Travesti;
• Não binário (Nessa nomenclatura estão incluses pessoas gênero fluído, bigênero, demigênero, entre outros gêneros fora do rótulo homem e mulher);
• Não quero responder;
• Não sabe;
• Outro (não se identifica com nenhum dos rótulos ou situações anteriores)
(Considerei “cis” como uma pessoa que se identifica com o gênero designado a ela no nascimento e “trans” como uma pessoa que não se identifica com o gênero designado a ela no nascimento.)

As agências que aceitaram participar foram: Afeto Agência Literária, Authoria Agência Literária & Studio, Agência Magh e Agência Moneta

Respostas das agências

Afeto

Dessas pessoas autoras trans agenciadas, as 2 estão em editoras tradicionais com publicação solo, sendo uma de pequeno porte e uma de grande porte. Além disso, uma delas foi publicada em uma antologia em uma editora independente.

Segunda a agência, como a Afeto é focada em minorias, o processo para as pessoas agenciadas entrarem no mercado é muito mais complexo e parte de etapas muito anteriores a da oportunidade no mercado em si, mas sim de um processo de quase convencimento para a própria pessoa de que o que ela tem a dizer vale a pena. Isso torna o caminho até levar o trabalho dela para o mercado muito mais extenso.

Segundo a editora, há somente busca ativa, acompanhando o que esses autores tem feito.

Authoria Agência Literária & StudioAgê

Essa pessoa agenciada está em editoras tradicionais com publicação solo.

Segunda a agência, no mercado, as oportunidades são crescentes. O mercado começa a se abrir a esse segmento que sempre foi minoria.

Em relação às oportunidades para essa pessoa agenciada trans não-brancas, a agente diz que "o interesse da editora foi maior ainda, por se tratar de alguém pertencente a mais de uma minoria invisibilizada".

Quanto a busca por autories trans, a agência não fez ainda editais formais, mas há uma busca ativa por pessoas trans com bom trabalho editorial

Agência Magh

Dessas pessoas autoras trans agenciadas, ainda não há nenhuma com publicação tradicional.

Segunda a agência, no caso dela, até o momento não houve diferença de oportunidades, no sentido de que, trabalhando com ficção de gênero, as opções em geral são mais escassas, além disso, o processo de trabalho do original antes de envio para editoras pode ser mais demorado, de forma que talvez possamos dar uma resposta mais abrangente sobre isso no futuro, porém historicamente temos mais pessoas cis com acesso ao mercado, o que se reflete no número de pessoas trans que agenciamos e nos números de autores trans publicados tradicionalmente.

Sobre as oportunidades para pessoa trans não-brancas, a agente responsável diz que s"ão difíceis, mas não trabalhei com pessoas trans não brancas na agência para poder ter mais detalhes. O que vemos é que essas pessoas não estão sendo publicadas pelas editoras em geral".

Quanto a busca por autories trans, existe uma busca ativa por novas vozes trans e/ou não brancas; infelizmente na nossa chamada de 2023 tivemos menos de 1% de envios de pessoas trans, e parte do material nem mesmo era dos gêneros que trabalhamos*. No próximo edital, vamos reforçar a busca tanto por pessoas LGBTQIAP+ em geral, assim como pessoas não brancas e PCDs.*A agência tem foco em fantasia, ficção científica e terror.

Authoria Moneta

Segunda a agência, embora ainda não tenham trabalhado com pessoas trans, elas acreditam que, assim como em outros âmbitos, pessoas trans encontrem mais obstáculos para se inserir mercado por conta de preconceitos. Isso não significa, porém, que não há público para ler as histórias escritas por essas pessoas ou que as editoras não têm interesse em publicá-las. Apenas precisamos trabalhar nelas com atenção, nos dedicando a questões que podem ser específicas dessas pessoas enquanto escritoras, seja em um nível mais profissional, emocional ou psicológico.

Em relação às oportunidades para essa pessoa agenciada trans não-brancas, a agente responsável diz que "como ainda não trabalhei com pessoas trans, não consigo dizer com exatidão; contudo, por ser uma pessoa negra e ter autoras negras, sei que algumas questões específicas precisam ser trabalhadas quando a pessoa autora é não branca, e acredito que aconteça o mesmo quando se trata de uma pessoa trans de minoria racial. Da mesma forma, podem encontrar mais obstáculos para entrar no mercado, mas com um trabalho conjunto de diversos profissionais (de agências a editoras e influenciadores literários), conseguimos levar essas pessoas e histórias mais longe".

Quanto a busca por autories trans, como a Moneta é uma agência nova (10 meses de existência), ainda estávamos nos estabelecendo melhor no mercado antes de abrir algum tipo de prospecção. Apesar disso, estamos trabalhando ativamente na elaboração de projetos que visam trazer mais autores de minorias para a agência. Em breve, inclusive, abriremos um edital que dará prioridade para pessoas não brancas, trans e com deficiência.

Geral

No total, as quatro agências representam 119 pessoas, das quais 5 se identificam como pessoas trans.

Nino Cavalcante

Nino Cavalcante, ou Literanino, é autorie e criadore de conteúdo literário. Tem uma paixão por histórias desde criança que levou para a vida adulta.Jornalista e comunicador por formação, atualmente cursa pós-graduação em produção editorial.Em seus livros, escreve histórias com protagonismo LGBTQIAP+, e na produção de conteúdo, fala sobre livros jovens adultos com foco em diversidade.